Apotheosis Part IV

 

Balder ajeita o objeto envolto em veludo preto por sobre a mesa diante de Egoismus, lentamente desdobra o pano revelando seu conteúdo nefasto.

A visão da mão de Tyr não é digna de muita apreciação, dedos crispados secos envoltos em pele acinzentada e decrépita.

Egoismus segura o membro mumificado e observa intensamente por alguns momentos.

- Belo trabalho Balder, belo trabalho – pronuncia enquanto volta a enrolar o artefato no seu tecido mortuário.

- Não sabes o quão furioso está Fenrir... – retruca Balder, esfregando as mãos esperando pela sua parte da troca.

Egoismus coloca o objeto em uma das gavetas da sua mesa, e discretamente pega a pistola Colt Romero cuidadosamente previamente disposta na mesma gaveta.

- Como sabes Ego, temos um trato, e ficarei feliz em terminarmos logo com isso – diz Balder sorrindo forçosamente.

“BANG!”

Um traço vermelho colore o rosto de Balder, sua orelha, agora inexistente, transformada num pequeno chafariz de sangue.

- P-porquê isso Ego! – clama o emissário, perdendo o equilíbrio caindo de joelhos – um grande homem não seria desse modo tão covarde!

“BANG!”

E o crânio de Balder transforma-se em uma massa disforme de sangue, miolos e tristeza.

- Talvez eu não seja tão grande.

Egoismus não gosta de compartilhar palavras enquanto pensa em como limpar a bagunça.

Apotheosis Part III

É no sótão da casa de Hel que se encontra Egoismus, mascando pensativo, abstrato e contemplativo algum abjeto nutrimento.

Passos ecoam nas escadarias, Egoismus tenta associar o ruído com o corpo do indivíduo incógnito aproximando-se.

- Melpômene -  Sussurra pra si mesmo, enquanto acomoda rapidamente o cabelo com as mãos e ao mesmo tempo procura uma postura venerável na sua cadeira  furtada de uma velha druida senil.

A porta de cedro abre-se, revelando o  visitante emblemático.

Balder fita curiosamente o interior do aposento, absorto nos inúmeros detalhes, até perceber-se da figura por detrás da mesa. Egoismus aparente desgosto e frustração.

- Oh, boa noite Ego – Balder aproxima-se, sentando em frente à mesa, ainda fitando admirado os inúmeros objetos cuidadosamente assentados nas prateleiras.

- Boa? Consideras ainda as noites ainda  boas? Nada mal para um morto-vivo – responde Egoismus, voltando a ruminar lentamente – Já lhe adiantarei que não tenho interesse em lhe entregar o artefato – Egoismus descansa os braços e fita o pálido visitante, praticamente mandando-o embora com um olhar de desaprovação.

-Haha, o velho insolente Egoismus de sempre – gargalha forçosamente Balder – Na verdade, vim propor uma troca.

Egoismus levanta uma sobrancelha.

-Lhe oferecemos um valor absurdo Ego, valor suficiente para que saia do rabo de Hel, valor este para que construas teu próprio castelo, ou seja lá que antro prefiras habitar.

Egoismus masca seu chiclete.

-Estou falando de uma grande importância – articula Balder, aparentando uma seriedade mórbida.

Egoismus masca seu chiclete.

-Pense bem, não precisarias mais preocupar-se com favores daqueles elfos sujos  - Balder fala quase sentindo a vitória.

Egoismus masca seu chiclete.

-Pense nas ninfas.

Egoismus fica estático. Os dois fitam-se por terríveis segundos de silêncio constrangedor.

- Proponho uma troca – profere Egoismus, voltando à sua atividade mandibular.

-Troca? – É a vez de Balder levantar a sobrancelha do questionamento.

- Traga-me a mão direita de Tyr.

- Você está louco? Estamos falando de Tyr!! – Esbraveja Balder.

- Estamos falando do prepúcio de Cristo – retruca Egoismus.

- Não posso. Não, não, não posso, você é doente Egoismus, você é doente e maldito! – Balder levanta-se, caminha até a porta e contém-se um momento antes de sumir na escadaria abaixo. – Verei o que pode ser feito.

A porta fecha-se, som de passos ecoam degraus abaixo.

Egoismus continua seu mascar incessante por alguns minutos, então levanta-se, abre um armário sépia, pega um vidrinho que contém um líquido amarelado e nele cospe um pequeno aglomerado de pele disforme.

Apotheosis Part II

Virgílio hesita em sentar, a cadeira exótica forrada com padrões celtas e entalhes minuciosos aparenta séculos de existência, seu traseiro não mereceria tanto.

Egoismus permanece entretido com alguma assimetria inexistente nas próprias unhas.

"Você magoou Beatriz." Interrompe o velho Virgílio.

"Não que tenha me esforçado." Murmura Egoismus, sem interromper sua tarefa estética.

Virgílio retira um ramo seco do bolso e larga por sobre a mesa, igualmente ornada com os malditos padrões celtas.

Egoismus examina o objeto alguns instantes, abre uma gaveta retirando dela um fino pedaço de papel e começa a esmigalhar o ramo por sobre este.

"É uma mandrágora, Ego."

"De fato."

O velho apóia-se na mesa aproximando-se do homem à sua frente, arriscando uma voz mais imponente:

“Não sou como Beatriz, quero uma resposta, e agora!”

“Não há respostas Virgílio.”

Virgílio dirige-se à janela, fitando o nada:

"Permaneces inflexível como uma pedra.”

“Sou a pedra na uretra de Sísifo.”

Através do reflexo do vidro, Virgílio acompanha por alguns minutos a ocupação do colega:

“Você não vai fumar esta merda Egoismus.”

“Decerto, irei comê-la.”

Virgílio dirige-se para a porta, exalando um ar de que algo pior irá acontecer.

“Trarei Melpômene.”

Egoismus não esconde um sorriso sarcástico.

Ausência Notória


No mask like open truth to cover lies,
As to go naked is the best disguise.

—Congreve,William