A Esfera de Ônix - Part I

Os céus estavam acinzentados naquele fim de tarde no vilarejo da Ponte do Arco, os ventos do oeste traziam baforadas secas de um verão que castigara o solo, a população de agricultores e pescadores, acostumados com a abundância, encontravam-se desanimados e melancólicos nesses tempos de privações.

E é nesse clima monótono que os anões da montanha entoam sua melodia de marteladas junto a Ponte do Arco, em uma coreografia laboriosa levando pedras, plantando estacas e erguendo paredes, incessante esforço para reconstruir a ponte destruída pelas torrentes furiosas do Rio Arkhen. Os hospitaleiros anões da montanha não descansam até horas após o sol se esconder no horizonte.

Mas não é nada hospitaleiro o que se desenvolve junto a Taverna Do Arco, onde a atenção de todos é quebrada por um arremesso de uma caneca junto à parede.

Syrnallin está em pé junto a uma das mesas, com o dedo em riste urra ao conjunto de guerreiros da mesa ao lado.

- E não venham me dizer que não estão me olhando atravessado! Seus porcos falantes, energúmenos e fétidos! Ninguém, NINGUÉM, olha atravessado para Syrnallin, o rei dos elfos, e vê o sol nascer novamente!

- Syrnallin, menos... - Mörgun, o bardo, encaminha o homem alto e de armadura vermelha para recomposturar-se junta à mesa, aonde mais quatro estranhos aventureiros se encontram.

Mircalla não esconde as feições de constrangimento diante das intempéries de Syrnallin, que no momento limpa a baba de cerveja da barba clara.À sua frente, não menos bêbado, Boonshor gargalha guturalmente, sem preocupar-se no banho de cerveja quente que acaba presenteando aos companheiros.

A elfa esguia, incomodada, passa o copo lambuzado do orc ao lado, aonde um senhor, de cabelos brancos analisa o líquido contra a luz. Agro sempre dedicou-se às artes mágicas e alquímicas, e cada possibilidade de absorver conhecimento não é passada em branco.

- Acho que é melhor mantermos o foco e decidirmos o que fazer para passar o tempo até que consertem a ponte. - Diz Mörgun, tentando desviar a atenção para um novo tópico. Mörgun carrega um bandolin às costas, o que lhe dá um ar de camaradagem e simpatia.

- Tempo precioso para estudos e dedicação ao conhecimento. - menciosa Agro, e neste momento o amarelo da cerveja se torna vermelho diante de todos. Agro sorri.

- Truque barato, - rosna Boonshor - e tirando o copo das mãos do mago, bebe tudo com um gole, arrotando em seguida.

Syrnallin desembainha a espada e levanta novamente, derrubando a cadeira, Mircalla e Mörgun intervêm e mais uma vez sentam o amigo, que aparenta estar furioso com mais alguma coisa imaginária.

Após alguns minutos, a porta do estabelecimento abre-se com violência, e surge à Taverna uma criatura imponente, as feições de meio-orc são notáveis, em torno do corpo, sete espadas disputam espaço junto aos músculos esverdeados.

- Tem alguém neste covil que não se preocuparia em dormir com os vermes?! Urra o meio-orc, dirigindo-se ao meio da taverna.

Os ali presentes parecem não se importar com a prepotência do visitante, coisa comum nas terras esquecidas, ignorando-o por completo.

Exceto Syrnallin.

Obviamente.